O que dizem as suas orelhas?
Calma, este artigo não se propõe a arrancar-lhe uma lagriminha, bem ao jeito de uma outra rubrica. Hoje proponho demonstrar como o nosso corpo é, de facto, uma máquina muito bem oleada e que espelha externamente o que vai no nosso interior.
Os nossos leitores já se foram acostumando a certas vicissitudes da nossa área, tais como a extraordinária arte de saber identificar sinais e sintomas e relaciona-los com determinados padrões de doença. Nesta minha explanação gostava de vos falar de uma das disciplinas da Medicina Chinesa, muitas vezes vista como filha de um Deus menor. Falo-vos, pois, da Auriculoterapia …lanço uma questão aos meus pares, quantos de vocês integram esta técnica na vossa prática clínica? Veem nela uma ferramenta com um potencial enormíssimo? Ou como um complemento adjuvante?  Não tenho pretensão de mudar a vossa prática clínica, ou a vossa rotina, apenas vos peço alguma indulgência e paciência para me seguirem nesta crónica e passem a ver a análise do pavilhão auricular como uma poderosa ferramenta de diagnóstico e terapêutica.

A observação da orelha sempre me intrigou imenso, as alterações de pele, sulcos, vincos, vascularização diferente (hiperemias ou descolorações), a presença de telangiectasias (as “teias de aranha” que buscamos com tanta avidez para efetuar sangria, não é colegas?) e uma das coisas que me fazia pensar sempre imenso eram os nevos melanocíticos pintalgados no ouvido externo de muitos pacientes 
Hoje é destes nevos melanocíticos (os vulgares sinais), na orelha, que vos vou falar, mais especificamente, dos que se encontram na hélice (uma vez que se estes nevos estiverem noutra área da orelha têm uma interpretação diferente, falaremos desses noutra altura).




Para que os nossos leitores, que não são da área saibam de que zona da orelha falo, a
hélice é a porção delimitada pelos dois segmentos de reta e preenchida pelas pintas azuis que adicionei para que a identifiquem mais facilmente. Realço que esta área inclui face anterior (a que vemos na imagem) e a face posterior (nas “costas” do que se vê)




A distribuição destes nevos melanocíticos identifica anomalias esqueléticas, para os que conhecem a divisão da coluna cervical, dorsal e sacral, projectadas na orelha conseguirão perceber a que nível estão essas anomalias
A distribuição dos nevos na hélice estende-se também, não raras vezes, à zona de transição entre hélice e lóbulo da orelha, que se presume ser a representação dos ossos craniais. Ou seja, pode dar-nos uma informação privilegiada quer para diagnostico e tratamento de problemas de nevralgia do trigémio, ou outro qualquer problema craniomandibular.
Termino por hoje, e irão perdoar-me, com certeza, este desabafo, muitas vezes temos fama de bruxos, magos ou adivinhadores de oráculo (pessoalmente não me importo muito com isso porque sou fã do Tolkien e consigo imaginar me como a Galadriel) mas
o conhecimento não surge por fonte de inspiração ou artes divinatórias, mas sim de imensas horas de estudo e pesquisas que quem é da área faz a toda hora. Bem-hajam e boa semana.

Comentários

  1. Olá! Voltei hoje aquela sala de aula no IMTC, tão bom ouvir-te de novo! Parabéns, pelo artigo! Beijinhos

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