Aprender a Nadar


 De há um ano a esta parte tenho tido o privilégio de ter estagiários a acompanhar a minha prática clínica. Esta última (estagiária) do IPS. Chamo-lhe privilégio porque estar e contribuir no processo formativo destas "gentes" é de facto fabuloso...porquê? Eles são aquilo que deveria ser a "elite", porque sabem muito? Não, não é isso, eles são neófitos, precisam de orientação, de noção, de diretrizes válidas em "campo de batalha", precisam de diretrizes válidas em contexto clínico. Mas serão a elite porque oriundam de uma Licenciatura em Acupuntura, em Ensino Superior , não é lindo? Eu acho! Nós precisamos dessa validação. Estou a cuspir no prato onde comi? ou a rebaixar/diminuir a instituição onde me formei? Não meus amigos, não demos mais esmolas para esse peditório, até porque não é sobre nada disso que pretendo falar-vos no momento.

Avançando para o que me traz cá hoje, denota-se nestes quasi profissionais a pouca cultura do "toque", da palpação, do sentir o canal, do sentir o ponto onde vamos inserir as nossas agulhas, isto foi tudo novo para ti, verdade minha "Sariana" (não,não me enganei a escrever, eu troco-te tantas vezes o nome com o da tua Orientadora da Universidade, eu não tenho culpa!! as semelhanças físicas são extraordinárias).


 
Vamos tentar perceber o que os clássicos têm a dizer a respeito desta possibilidade, de os canais poderem ser sentidos? (os colegas mais versados na profissão terão de ter um pouco mais de paciência comigo, porque esta crónica dirige-se mais aos nossos futuros colegas)


Os capítulos 73 e 75, do Ling Shu, referem dois termos são chave para responder a esta questão. O primeiro, no cap.73, qiē, que significa "fatiar", em terminologia médica moderna, este caracter é usado para descrever pressionar, separar a "carne" com a ponta de um dos dedos. Em textos mais modernos o termo é usado para descrever a toma do pulso radial. Quando  tomamos o pulso, nós, cuidadosamente, separamos ou analisamos o significado do mesmo em múltiplos níveis.

O segundo termo, de particular importância para responder à questão levantada, é o encontrado no cap.75, do Ling Shu, Xún, que significa "acompanhar ao longo de ", ou seja percorrer ao longo do canal para recolher informação acerca do mesmo.

Claro que a técnica de palpação de canais é mais intrincada do que aquilo que deixo aqui transparecer...mas fica a chamada de atenção para a sua importância. Deixem-me só relembrar que no Clássico de Medicina Interna parece comparar a importância de palpar os canais com a da toma do pulso - pensem nisso!

Se me permitem, finalizo com a partilha convosco algumas breves linhas do cap.75 do Ling Shu:

    "Antes de usarem agulhas, devemos escrutinar os canais para determinar excesso ou deficiência. Devemos separar (qiē) e palpar (Xún). Devemos pressionar (An *) e arrancar (Tan**). Observar como o canal responde e move antes de prosseguir"

(*) An - pressionar por pontos sensíveis (ashi)
(**) Tan - Arrancar/Beliscar para avaliar elasticidade da pele.

Comentários

  1. Agradeço o reforço do "alerta" para este aspecto, pois, não obstante a minha, ainda, parca sensibilidade na análise dos aspetos inerentes às características a ter em conta e a perscrutar na palpação dos meridianos, foi só após após o contacto com a minha professora-orientadora de estágio (fim do 4º ano), que verdadeiramente me foi criado enfoque sobre este aspecto e em que obtive algum "treino" sobre o mesmo - assunto que pouco/nada foi abordado até então, e muito menos enfatizado durante o meu curso de base. Tanto caminho ainda a percorrer... mas com gosto :).

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    1. O caminho é longo mas faz-se caminhando, foi um privilégio ter te iniciado nalgumas andanças

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    2. Para mim, foi e é - um orgulho tê-la como professora!

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