Caso clínico vs Técnicas de Acupunctura

Hoje queria falar-vos de um caso especial. A verdade é que, para mim, todos os casos são especiais, pelo que se calhar “especial” não é a palavra mais correcta. E já que todos são especiais, dizer que é “mais um caso” também não é verdade! Enfim, o caso é brutal!


Tenho o privilégio de estar a acompanhar uma paciente há uns anos. Foi a primeira vez que alguém me procurou especificamente por causa de uma técnica de punctura. No caso YNSA (Yamamoto New Scalp Acupuncture).



  • Aproveito para fazer um parêntesis aqui mesmo! A todos os colegas que nos seguem, e principalmente aos que ainda estão a estudar ou acabaram os estudos há pouco tempo: A acupunctura é um mundo! A ideia com que saí da minha escola foi “sabes as bases sobre acupunctura! Conheces todos os pontos de acupunctura! Não há outra forma de praticar a acupunctura a não ser acupunctura sistémica!”. Sempre que algum paciente novo me falava que tinha ido a “fulano tal” e ele só tinha posto umas agulhas na cabeça, ou em zonas pouco “ortodoxas” eu só pensava “realmente… Anda aí muito sapateiro”. Felizmente sempre tive o bom senso de nunca criticar um colega, mas que pensava menos bem dele, pensava... A primeira formação que fiz “fora da caixa” foi YNSA e não minto quando vos digo que no final do primeiro dia senti que tinha tomado o comprimido vermelho do filme “The Matrix”. Essa experiência colocou-me no meu lugar! Foi também nessa formação que conheci o “nosso” Sérgio! Só coisas boas!


Esta paciente, do sexo feminino, com 48 anos, praticamente desfez a C5 após um mergulho de cabeça aos 14 anos de idade. Foi submetida a uma intervenção cirúrgica onde foi colocada uma placa de contenção entre a C4 e a C6. Perdeu os movimentos finos das mãos, a função das pernas, mas responde à temperatura e pressão (sente calor e frio bem como o toque). Estávamos no ano de 2016 quando começámos o nosso trabalho. Os ganhos foram brutais! Passados 2 meses a paciente estava a fazer cada vez mais exercícios de elevação na posição de sentada e referiu que pela primeira vez sentiu que a mão direita lhe pertencia (vieram-me as lágrimas aos olhos com esta notícia)!

Entretanto mudámos o tratamento para o método de equilíbrio do Dr. Tan. Mais uma vez houve mudança e melhoria. Membros inferiores mais fortes, melhoria nos movimentos finos e estabilidade das mãos. Isto para não falar no aumento da qualidade do sono, níveis de ansiedade equilibrados, trânsito intestinal regularizado, digestões menos lentas… Aqui houve também a ajuda de pontos do Mestre Tung bem como a aplicação de moxa directa ao gentil estilo japonês (a moxibustão é uma técnica de estimulação de pontos de acupunctura, ou zonas do corpo, recorrendo à combustão de uma parte específica das folhas da Artemísia. Podemos, ou não, usar o calor produzido pela combustão com um fim terapêutico. Este assunto dá pano para mangas e merece só por si um post).

E eis que chegamos à aplicação da técnica de crâniopunctura do Dr. Zhu. Tenho que vos confessar que a principal razão pela qual me inscrevi para esta formação (e "perdi o amor” a uma soma interessante de dinheiro) foi, sem sombra de dúvida, esta minha paciente a quem só tenho a agradecer!
Começámos a aplicar esta técnica a meio de Outubro de 2018. Para terem noção dos ganhos, os tímidos exercícios de elevação na cadeira de rodas (que exercitavam tanto pernas como braços) foram substituídos por passar cerca de 1h de pé por dia, com um controlo extraordinário dos joelhos (que não estão “trancados” sem permitir a flexão da perna), com transferência de peso entre os membros inferiores, com um ganho de confiança extra que permite contrair e controlar de tal forma os músculos que a paciente consegue ensaiar passos para a frente, para trás e para os lados. As alterações físicas também são notórias. Os músculos desenvolveram-se, a planta dos pés e as articulações das pernas tiveram que se adaptar a esta nova realidade: Estar de pé! Como eu lhe costumo dizer "são dores de crescimento". Pouco tempo depois de iniciar estes exercícios referiu que a sensação de estabilidade que tem é extraordinária e que aquela posição lhe é confortável, como que lhe tivesse despertado a memória de “como se faz”. É a paciente que se coloca sozinha na posição vertical, com apoio como é óbvio.

O trabalho está longe de concluído. Tanto eu como ela sabemos que há caminho a percorrer enquanto houver apresentação de resultados.

Comentários

  1. Trabalho com este tipo de doentes há 15 anos e tenho apenas tentado ajudar na transição saudável saúde - doença.
    No meu íntimo, o que gostaria mesmo era de poder oferecer alguma autonomia e recuperação nos deficit.
    Talvez um dia chegue o momento de também eu fazer uma formação desse género e começar a dar vida ao sonho.
    Continua... Tem sido uma inspiração para mim ler o vosso trabalho.

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  2. Parabéns colega. É de louvor toda a dedicação e trabalho.
    Fico feliz pela persistência e principalmente pelo resultado.
    Obrigada pela partilha. Continuação de bom trabalho.

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